O acordo do fim do sonho

Um acordo doloroso havia sido selado entre mente, alma e coração. Nada mais de alimentar sonhos, vontades, esperanças. Iria só caminhar com a maré. Nada mais de historias de principes e princesas, de vestido branco e um cantinho pra fazer comida a dois e dormir aconchegados. A vida real não permitia isso e os sonhos haviam sido substituidos por constatações duras que nada disso se tornaria realidade. Aquele sonho de ter alguém que corre pros seus braços morrendo de saudade após algumas horas distantes, que larga tudo só pelo prazer de sua companhia, que se coloca contra o mundo só pra não fazer alguém sofrer e entende o preço e o valor de ter e sentir prazer nas prioridades acabou. Não. Não era prioridade, não era saudade, não era sonho. A realidade era bem diferente disso. 

A menina tinha perdido aquela vontade de construir a sua família. E não a familia de filhos e cerca branca. Mas a família de ter alguém a seu lado que significasse sua familia. Que estivesse ao seu lado para tudo e largasse seus piores vicios por amor a ela. Que estivesse pronto pra mudar opiniões, desejos e caminhos, assim como ela se propunha, por outrem. Que a colocasse à frente de quem fosse e fosse sincero, e lhe dedicasse a sua vida. Porque no fundo era isso o que ela mais queria. Poder dedicar a sua vida a alguém que lhe devolvesse a dedicação. Que a aceitasse com suas opiniões conservadoras e a admirasse por não se vender às opiniões mundanas com tanta facilidade. Alguém que a entendesse nos seus dias mais carinhosos e a colocasse no colo, dizendo que era absolutamente normal ser romântica, porque ela não precisaria dizer que nos dias em que era mais romantica eram exatamente os dias em que mais precisava de romantismo, que mandasse que ela estivesse pronta que em minutos estaria na porta dela e que não fizesse perguntas, apenas obedecesse porque aquela noite era dela e tudo seria surpresa. Alguém que ligasse só pra dizer que ama. Ou que mandasse flores. Alguém que fizesse surpresas. E agrados. E demonstrasse apreço em ser agradado. Porque agrados são necessários, surpresas esquentam a vida e a cama, além de manter acesa a chama. 

A menina sonhava com amor. E paixão. E não aquele amor antes do sono, mas aquele amor desprevenido, que não tem hora nem lugar. Que não segue regras de comportamento ou horarios. Que vê o outro como unica necessidade, como já havia sido um dia. Que conversa sobre vida e futuro com o sonho no olhar e tem a ansiedade de torná-los realidade o quanto antes porque tudo é uma comemoração. E que a conhecesse em seus minimos detalhes. Que soubesse cada motivo de cada sorriso sem que precisasse ser dito. Porque ela era daquelas mulheres que fazia uma cara diferente pra cada coisa. E um trejeito pra cada pensamento. Quando estava com vergonha fazia assim, quando estava de outro jeito fazia assado, porque mexia no cabelo, porque mordia o canto da boca. E ansiava por alguem que conhecesse esses detalhes, que só quem presta atenção suficiente percebe. 

E ansiava por construir a vida como alguém que esta submerso anseia pelo ar. Não pra daqui a tempos, num futuro distante porque entendia que o futuro começou ontem e com omissões e “um dia” não se constroi nada. Quem quer, faz. Quem finge querer arruma desculpa e havia descoberto isso das formas mais duras possíveis. O Mago Negro havia dito: não desista do seu sonho. Ele é muito bonito, valoroso e um dia se realizará. Mas já era tarde demais. E então ela ansiava por tanta coisa que essas coisas tomaram vida, mesmo que só dentro dela. E vida que pulsa dentro de nós é sonho. Mas sonho não fazia parte do acordo. 

 

 

 

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